LOS SUEÑOS DIGLÓSICOS: Notas para una antropología cultural de Galicia.


"El seno materno es el paradigma de la palabra entorno"
(Matt Ridley)

Esta entrada ha sido traducida al gallego por Antía Cortizas Leira, filóloga portuguesa, traductora, profesora de portugués e investigadora en sociología de la cultura y geografía cultural, además de otras muchas cosas que aquí no vienen a cuento. Muchas gracias. (Para todos aquellos que no sepan leer en gallego o que consideren que tener que hacerlo atenta contra sus derechos constitucionales pasar directamente a la parte en castellano).


Cavalli-Sforza refere o indigenismo científico como a tendência a negar a importância dos movimentos migratórios e até a sua própria existência na evoluçom cultural. O indigenismo científico tem sido criticado como um sesgo científico racista na antropologia cultural (Ammerman e Biagi, 2003). Negar as influências externas na cultura e na história galega é negar a cultura e a história galega mesmas. Dado que, no fundo, biogeograficamente, a Galiza não é a Tasmânia. A Europa inteira durante a Idade Média através do caminho de Santiago, Castela na Idade Moderna através da imposiçom de estruturas políticas e América na Idade Contemporânea através da imigraçom constituem aquilo que nos fez ser galegos; quer dizer, que som estes alguns dos factores principais que fizeram evolucionar e emerger a identidade nacional galega.

Mesmo assim, e com respeito ao acervo genético do meu val, é bastante provável que as aportaçoes derivadas da exogamia foram muito escassos, (embora importante*) ou pelo menos nom tam frequentes até os últimos 50 anos como as contribuições culturais externas. Que ninguém embriague com o romanticismo da ideia, mas caso encontrarmos restos dos primeiros povoadores na ladeira frente à janela do meu quarto iria apostar pela minha mae e os seus vizinhos como descendentes directos após os análises de ADN mitocondrial.


Tudo tem mudado nos últimos 50 anos. Este flashback exige-nos imaginar um mundo que já nom existe. Um mundo de arados pré-romanos, bosques aos quais tentava ganhar-lhes terreno para a agricultura e miséria, muita miséria. Um mundo em que a exogamia era casar com um do povo do lado. A sociedade galega é candidata a ser a sociedade que mais tem mudado numa só geração em toda a história da humanidade por diante da espanhola nos últimos 30 anos e até da japonesa após a segunda guerra mundial. Nas aldeias de aquele mundo o espanhol era a língua falada para aparentar status. Salvo o médico, o professor, o rico e os ciganos (estes últimos mais correctos que os anteriores), ninguém falava o castelhano realmente. As crianças como a minha mae falavam castrapo* na escola ou quando brincavam a ser adultos de êxito.

Na sua história pessoal conta como quando emigrou, sendo ainda quase uma criança, as mesmas razoes que a levaram a emigrar -a procura de um melhor status social e económico- fizeram-na queres aprender espanhol e as associaçoes do galego com um status social e económico baixo fizeram-lhe querer esquece-lo.

Os módulos mentais responsáveis da adaptaçom inconsciente do comportamento linguístico do indivíduo ao comportamento do grupo, quer dizer, de aquilo que chamamos imersom linguística, fizeram o resto e rapidamente começou a falar espanhol com fluidez e correcçom. Ao emergir desta latência já pensava em espanhol e com o tempo começou a sonhar em espanhol. Ainda que nunca seria a sua língua materna converteu-se durante décadas na sua primeira e quase única língua.

Com os anos voltou para a Galiza onde o status do galego tinha mudado muito, sobretudo na imagem social que os próprios falantes tinham de eles próprios. Hoje em dia, no seu caso como no caso da maioria dos galegos, na relação entre os dois idiomas do país abunda em exemplos de diglossia.

Galego com os íntimos, com os pais ou com os vizinhos e espanhol com os desconhecidos, com os filhos ou com a administração.

De todos os exemplos de comportamento linguístico diglóssico que tenho observado há dois dos quais não consegui encontrar nenhuma referência:

Zoodiglossia; quer dizer, espanhol com as pessoas e galego com os animais. Isto poderá parecer uma loucura (que é), mas não imaginais a quantidade de galegos que amostram a mesma pauta sociolinguística no rural. Desconfio que o princípio de indeterminação de Heisenberg- Schrödinger e a vergonha fazem que só fale galgo com os animais na intimidade.

Sonhos diglóssicos; ainda que me contou que com o tempo tinha chegado a sonhar em espanhol, surpreendeu-me numa ocasiom ao confessar-me que nos seus sonhos mais profundos, quando a sua mae voltava a viver e ela era menina de novo, falava num galego arcaizante que hoje se tem perdido.

Gostaria de que um psicolinguista me oferecesse uma explicaçom satisfactória destes fenómenos.

Também gostaria de que um sociolinguista me explicasse porque sendo o galego, faz décadas, o idioma da minoria pobre, campesina e marinheira e o espanhol o da minoria rica, profissionais liberais e cargos públicos, foram os ciganos os que falavam com diferença em melhor castelhano da Galiza quando estes eram os mais marginais e excluídos socialmente.



*Mecanismo de Ridley: faz referência à ideia contra-intuitiva de que as contribuiçoes da exogamia ao acervo genético de uma comunidade possam ser anedóticas e importantes ao mesmo tempo. Para explicar o impacto da exogamia no acervo genética de uma comunidade MattRidley utiliza a metáfora de um tinteiro (um indivíduo alheo à comunidade) e de uma pluma (o acervo genético da comunidade) que absorve toda a tinta possível (acervo genético individual).

Isto explicaria por exemplo, segundo o autor, pelo que algumas comunidades judias tradicionalmente ilhadas e endogámicas som mais parecidas geneticamente aos seus vizinhos de fora do gueto (gentis, nom judios) que a outras comunidades judias de guetos mais próximos. Chega uma violação ou uma cópula furtiva por geração para uniformizar os acervos genéticos.

Segundo esta hipótese, caso de ter algum de nós filhos como consequência de 'um affaire' com um sentinelés ao voltar gerações depois observaríamos espantados o êxito que tiveram os nossos traços e por consequente os nosso gens. Esta espécie de efeito fundador 'localizado' ou mecanismo de contra-deriva genética tem um exemplo real no caso histórico de José Manuel de Frutos Huertas e a tribo Maori dos Paniora.

Quando falamos da Espanha romana, visigoda ou árabe pode parecer que as percentagens demográficas destes povos frente a populaçom nativa, quase desprezíveis, deixam espaço para o indigenismo biológico. Ainda assim e como lhe conta Dennis Hopper a Crhistopher Walken em "Amor à Queima Roupa" ou como revelam as análises em algumas cidades de América Central (onde o cromosoma Y é europeu e o ADN mitocondrial amerindio) chega uma sucessão de violações de um exécrito estrangeiro para mudar o nosso fenotipo. Esta hipótese deita fora o indigenismo científico tanto na evolução cultural como na evolução biológica.



**Castrapo: nome com que era conhecido o espanhol falado por galegos que não sabiam falar espanhol. No estudo da evolução lingüística contem os traços percursores de 'idiomas' actuais como 'o korunho'.




Traducción:

Cavalli-Sforza se refiere al indigenismo científico como la tendencia a negar la importancia de los movimientos migratorios e incluso su misma existencia en la evolución cultural. El indigenismo ha sido criticado como un sesgo científico racista en la antropología cultural (Ammerman y Biagi, 2003).

Negar las influencias externas en la cultura y en la historia gallega es negar la cultura y la historia gallega mismas. Al fin y al cabo, biogeográficamente, Galicia no es Tasmania . Toda Europa en la edad media a través del camino de Santiago, Castilla en la edad moderna a través de la imposición de estructuras políticas y América en la edad contemporánea a través de la inmigración, son lo que nos ha hecho ser gallegos; es decir, que son algunas de las principales aportaciones que hicieron evolucionar y emerger la identidad nacional gallega.
Aun así, y por lo que al acervo genético de mi valle respecta, es bastante probable que los aportes derivados de la exogamia fueran muy escasos, (aunque importantes*) o al menos no tan frecuentes hasta los últimos 50 años como los aportes culturales externos. Que nadie se embriague con el romanticismo de la idea, pero de encontrarse restos de los primeros pobladores en la ladera frente a la ventana de mi habitación apostaría (a mi madre) por mi madre y sus vecinos como descendientes directos tras los análisis de ADN mitocondrial.

Todo ha cambiado en los últimos 50 años. Este flashback nos exige imaginar un mundo que ya no existe. Un mundo de arados prerromanos, bosques a los que se intentaba ganar terreno para la agricultura y miseria, mucha miseria. Un mundo en el que la exogamia era casarse con uno del pueblo de al lado. La sociedad gallega es candidata a ser la sociedad que más ha cambiado en una sola generación en toda la historia de la humanidad por delante de la española en los últimos 30 años e incluso de la japonesa tras la segunda guerra mundial. En las aldeas de aquel mundo el español era la lengua que se intentaba hablar para aparentar status. Salvo el médico, el profesor, el rico y los gitanos (estos últimos más correctamente que los anteriores), nadie lo hablaba realmente. Los niños como mi madre hablaban
castrapo** en la escuela o cuando jugaban a ser adultos de éxito. En su historia personal cuenta como, cuando emigró siendo casi una niña, las mismas razones que la llevaron a emigrar -la busqueda de un mejor status social y económico- le hicieron querer aprender español y las asociación del gallego con un status social y económico bajo le hicieron querer olvidarlo. Los módulos mentales responsables de la adaptación inconsciente del comportamiento lingüístico del individuo al comportamiento del grupo, es decir, responsables de aquello que llamamos inmersión lingüística, hicieron el resto y en seguida empezó a hablar español con fluidez y corrección. Al emerger de esta latencia ya pensaba en español y con el tiempo comenzó a soñar en español. Aunque nunca sería su lengua materna se convirtió durante décadas en su primera y casi única lengua.

Con los años volvió a Galicia donde el status del gallego había cambiado mucho, sobre todo el la imagen social que los propios hablantes tenían de ellos mismos. Hoy día, en su caso como en el caso de la mayoría de los gallegos, la relación entre los dos idiomas del país abunda en ejemplos de
diglosia. Gallego con los íntimos, con los padres o con los vecinos y español con los desconocidos, con los hijos o con la administración. De todos los ejemplos de comportamiento lingüísto diglósico que le he observado hay dos sobre los que no he conseguido encontrar ninguna referencia:

Zoodiglosia
; es decir, español con las personas y gallego con los animales. Esto podrá parecer una locura (qué lo es), pero no imaginais la cantidad de gallegos que muestran la misma pauta sociolingüística en el rural. Sospecho que el principio de indeterminación de Heisenberg- Schrödinger y la vergüenza hacen que ya solo hable gallego con los animales en la intimidad.

Sueños diglósicos
; aunque me contó que con el tiempo había llegado a soñar en español me sorprendió en cierta ocasión al confesarme que en sus sueños más profundos, cuando su madre volvía a estar viva y ella era niña de nuevo, hablaba en un gallego arcaizante que hoy se ha perdido.

Me gustaría que un psicolingüista me diera una explicación satisfactoria de estos dos fenómenos. También me gustaría que un sociolingüista me explicara por qué siendo el gallego, hace décadas, el idioma de la mayoría pobre, campesina y marinera y el español el de la minoría rica, profesionales liberales y cargos públicos, fueran los gitanos los que hablaban con diferencia en mejor castellano de Galicia cuando eran estos los más marginados y excluidos socialmente.



*Mecanismo de Ridley: hace referencia a la idea contra-intuitiva de que las aportaciones de la exogamia al acervo genético de una comunidad puedan ser anecdóticas e importantes al mismo tiempo. Para explicar el impacto de la exogamia en el acervo genético de una comunidad Matt Ridley utiliza la metáfora de un tintero (un individuo ajeno a la comunidad) y de una pluma (el acervo genético de la comunidad) que absorbe
toda la tinta posible (acervo genético individual). Esto explicaría por ejemplo, según el autor, por que algunas comunidades judías tradicionalmente aisladas y endogámicas son más parecidas genéticamente a sus vecinos de fuera del gueto (gentiles, no judíos) que a otras comunidades judías de guetos próximos. Basta una violación o una cópula furtiva por generación para uniformar los acervos genéticos.

Según esta hipótesis, de tener alguno de nosotros hijos como consecuencia de "un affaire" con un sentinelés al volver generaciones después observaríamos asombrados el éxito que han tenido nuestros rasgos y en consecuencia nuestros genes. También observariamos un fenómeno cultural similar a "los cultos de cargamento" al ver que nuestra figura se ha convertido en un objeto de reverencia casi mitológico. Esta especie de efecto fundador "localizado" o mecanismo de contra-deriva genética tiene
un ejemplo real en el caso histórico de José Manuel de Frutos Huertas y la tribu maorí de los Paniora.

C
uando hablamos de la España romana, visigoda o árabe puede parecer que los porcentajes demográficos de estos pueblos frente a la población nativa, casi despreciables, dejan espacio para el indigenismo biológico. Aun así y como le cuenta Dennis Hopper a Crhistopher Walken en "Amor a Quemarropa" o como revelan los análisis en algunas ciudades de América central (donde el cromosoma Y es europeo y el ADN mitocondrial amerindio), basta una oleada de violaciones de un ejercito extranjero para cambiar nuestro genotipo. Esta hipótesis propone una explicación complementaria de por que somos una especie "tan pequeña" al episodio del cuello de botella evolutivo de la salida de África y desecha el indigenismo cientifíco tanto en la evolución cultural como en la evolución biológica. Al fin y al cabo, para un atropólogo cultural, somos todos de la misma tribu.


**Castrapo:
nombre con el que se conocía al español hablado por gallegos que no sabían hablar español. En el estudio de la evolución lingüística contiene los rasgos precursores de "idiomas" actuales como "el koruño".

La foto es de Jokin Cabezuelo, pero no consigo enlazarlo

3 comentarios:

Anónimo dijo...

Interesante entrada, y muy bueno el link a los universales humanos.

Esto de la zoodiglosia no me parece una locura para nada, o bien yo estoy como un cencerro. Pq en mi caso es mucho más raro; yo le hablaba a mi gato en catalán de valencia, y ni tengo familia ni he estado allí más de dos veces... Mmm, quizás sí que estoy un poco pallá.

Ruso DoCouto dijo...

dodger, ha costado 100 años hacer ese link. cuando los cientificos hablan de rasgos comunes a todas las culturas se refieren basicamente a la lista de Brown.
Ha sido poco ético culpar a mi madre (con lo poco freudiano que yo soy!), admito que también me he sorprendido a mi mismo hablando con el perro en gallego "enxebre".

Anónimo dijo...

Muy interesante.
Me ha encantado la cita de Matt Ridley.